Quando eu era pequena e ia pra escola dominical, o dia que eu mais me irritava era o dia de aprender que quem tem mais sempre tem que ser compreensivo com quem tem menos. E, já que eu usei o nome escola dominical, deve ficar meio óbvio que o assunto não era bem material, mas essas coisas de bem interior.
Aí o resumo do negócio é o seguinte: quem sabe mais tem que entender quem sabe menos. O mais forte tem que proteger o mais fraco. MEU OVO.
Eu parto do princípio que todo mundo nasce meique mais ou menos igual (super precisa). Mas assim, fora deficiências óbvias, o cérebro (ou o espírito, fica a seu critério) de todo mundo pode chegar no mesmo lugar. O corpo não, eu admito, tanto em termos de beleza quanto de força. Mas inteligência e poder tão aí pra quem quiser usar.
Tem gente que não quer e a culpa não pode ser minha.
Aí assim. Nem na minha casa eu tenho a combinação genética mais favorável. Nem na minha casa eu tenho o QI mais alto. Nem na minha casa eu sou mais forte fisicamente. Nem na minha casa eu sou a pessoa mais influente. Se a gente chega a essa conclusão num universo de cinco pessoas, por que raios alguém estabelece que eu esteja acima de uma grande quantidade de pessoas em qualquer dessas características, enquanto cerumano pertencente a uma vasta sociedade?
Fica a dúvida.
O caso é que quando eu sou feia, fraca, burra e influenciável, ninguém tá nem aí pra mim. De modo que vos digo: cuida do teu que eu cuido do meu e fica todo mundo numa boa.
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Olha, eu devo ser uma atriz muito boa, porque eu passei a vida ouvindo que eu sou uma pessoa muito (?) privilegiada, de modo que sempre sou eu que tenho que ceder. “Você é mais inteligente, Vanessa. Você é mais bonita, Vanessa. Você é mais forte, Vanessa. Todo mundo sempre faz o que você quer, Vanessa”.
ANTES FOSSE, MEUS AMÔ. A gente não precisaria estar tendo esta conversa.
Que eu sou mais inteligente, bonita, forte e poderosa que muita gente, é verdade. Mas isso não quer dizer que eu tenha virado presidente do universo pro aclamação. (Uma pena. Uma pena.)
Só digo uma coisa: antes eu ser cobrada por ser demais que ser considerada coitadinha. Eu tenho pena de coitadinho e ÓDIO de quem tem dó de mim.
Acho incrível ser digna de revolta e não ser digna de pena.
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Capítulo II – da importância que as pessoas me dão
Aí vem a pessoa e diz que se eu acho que posso escolher quem faz parte do meu grupo, eu sou looser (sic) e perdi na vida. Olha, melbem, aqui no meu planeta, se eu posso escolher quem convive comigo, eu chamo isso de WINNER, mas né?
É me dar muito crédito.
E fica aqui a dica de graça, porque eu sou boazinha: loser tem um O só. Looser, de acordo com o Urban Dictionary, é outra coisa.
Porque assim: se eu fosse amiga de alguém acusado de decidir quem pode e quem não pode andar comigo, eu ficaria deveras indignada. Será que a pessoa acha que eu não tenho capacidade de escolher sozinha? Será que a pessoa acha que eu não tenho condição de ““““julgar”””” as pessoas por mim mesma? Quando a pessoa diz que eu acho que posso mandar nos outros, eu acho que os outros deveriam muito se ofender.
Eu até rio com a imagem de mim mesma dizendo “fulano é feio, não vai brincar com a gente” e todos com olhos vidrados, respondendo “siiiim, magnânima, mesopotâmica, luz da minha vida, razão da minha existência”.
Uma vez, na escola, eu fui pra diretoria porque a menina nova disse que não conseguia fazer amigos e a culpa era minha. Eu disse pra diretora que, até a última vez que eu tinha conferido, cada um usava o próprio cérebro pra pensar, e eu não andava emprestando o meu pra ninguém.
E, AINDA QUE eu gastasse preciosos tempos da minha vida esculhambando um outro cerumano, a gente tem que ter esperança de que cada um possa avaliar sozinho o que pensa a respeito do universo que habita, das pessoas que tão em volta e agir de acordo com isso.
E olha, eu só sou amiga de gente inteligente, eu garanto que cada um age da maneira que considera melhor, de acordo com a própria vontade.
Não sou eu que acho que o mundo gira ao meu redor, é você que acha.
Just sayin’.
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Capítulo III – da importância que as pessoas acham que têm pra mim
Gente, desculpa. O que eu vou falar agora é muito delicado, então vou tentar falar da melhor forma possível: eu não ligo pras pessoas. Sério. É mais forte do que eu.
[As pessoas em geral, né? Não tô falando dos meus amigos. Eu coração meus amigos como se fossem minha família. Acho desnecessário, mas é bom ressaltar.]
Tipos que se eu só te conheço ou até se já fui sua amiga, mas não mantenho contato através da imposição da minha presença em períodos regulares de tempo, de telefone, mensagem, email, twitter, meu ovo e até poke no facebook, é pelo simples fato de que não lembro que você existe.
Se você acha que algo que você fala ou faz me deixa muito brava e é por isso que eu fico sem falar com você, fica tranks, fica diboua, não tô nem vendo.
(Prova disso é que normalmente as pessoas têm que me avisar em 3 vias protocoladas que elas resolveram me ignorar.)
Sabe, eu nunca nem entrei em comunidade “eu odeio whatever” porque minha vida tem coisa boa demais pra eu despender energia com as coisas que eu não gosto.
Então, quando você diz, “oh, como a Vanessa é má. Como ela me exclui, ignora e trama contra a minha pessoa”, cara. Para. Nesse momento eu provavelmente estou vasculhando a vida do meu novo american idol favorito, ou jogando zuma, ou fotografando pro tumblr, ou sofrendo atrás de um scanner de negativo, ou comprando coisas em lojas chinesas pelo ebay, ou adquirindo tranqueiras na Inglaterra só porque o frete é grátis e a libra tá com a cotação boa, ou lendo um livro de qualidade duvidosa (ou um bom, que eu roubei da prateleira alheia ou ganhei do dono da prateleira hohoho) ou pensando em que cor de esmalte eu vou usar esta semana.
Resumindo: tô resolvendo a paz mundial.
Mania duzinferno que esse povo tem de achar que povoa todos os meus pensamentos, que é a razão de me fazer sair da cama de manhã. As pessoas que são importantes pra mim normalmente têm um documento por escrito atestando o fato. E pra mim, só é importante quem faz com que eu me sinta bem.
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Então ficamos assim. Não me dê mais importância do que eu tenho, não se dê mais importância do que merece. Curte aí a vida. E não esquece que quando você tem que gritar pro mundo te ouvir, é porque sua mensagem não é lá grandes coisa. E quando você tem que fazer propaganda da sua felicidade, é porque... bom, eu quando tô feliz não tenho tempo de ir avisando os outros. Normalmente dá pra ver na minha cara.
:)