- O problema desta família é que ninguém sabe perder.
Meu irmão disse essa frase num almoço desses de domingo, em que a família em questã estava toda em volta da mesa, fazendo graça sobre alguém muito contrariado por perder alguma bobagem.
E foi aí que todo mundo viu que era verdade. Ô familinha disgramenta, viu?
Não preciso nem explicar que não é naquela vibe orkutiana “odeio falsidade”, porque quem é que não odeia falsidade perder, não é mesmo? Mas é que minha família tá há umas 4 gerações (que eu tenha visto e possa confirmar) sem ensinar pros descendentes que perder faz parte. A gente simplesmente não sabe como lidar.
Nesta família, o cerumano não para enquanto não ganhar.
E eu acho que eu me dei mais mal que qualquer outro familiar, por causa da minha... teimosia obstinação.
É meio difícil viver quando você tem que conseguir por em prática absolutamente toda idéia que passa pela sua cabeça. É meio difícil viver quando você tem que ganhar absolutamente todas as batalhas. É meio difícil viver se seu mundo cai cada vez que um detalhezinho foge do seu controle.
É difícil.
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Teve um final de semana aí que eu desliguei tudo. Sabe? Minha mãe deve ter achado que eu estava doente, porque eu não mantive contato com meus tão amados amiguinhos, não fiz nada. Fiquei umas 400 horas refletindo minha vida, meu universo e tudo mais. Até porque o tempo passa mais devagar dentro da minha cabeça e é sempre uma chance a mais pra eu me derrotar com tanta auto-tortura.
O caso é que eu vejo todo mundo evoluindo e eu ficando sempre no mesmo lugar.
Uns 10 anos atrás, minhas amigas (até a mais esculhambada delas) começaram a se casar. Mas foi uma atrás da outra. Até aquela que parecia que ia morrer abandonada tratou de arranjar um desavisado to put a ring on it e, no fim de uns 14 meses, 8 mulheres estavam casadas. Nunca me senti tão deslocada NA VIDA quanto num dos últimos desses casamentos. As pessoas lá falando sobre curso de culinária e eu, que já cozinhava fazia mais de 10 anos, não conseguia me inserir na conversa de forma nenhuma. Dá pra entender? Eu não tinha marido, eu não tinha dificuldades cozinheirísticas, eu não pesava 900kg (sacanaji, eu sei, mas que culpa eu tenho?), eu não queria essa vida pra mim, ué.
Me abandonaram.
O planeta terra deu uma porrada de voltas em torno de si mesmo e do sol, a vida foi continuando, eu ainda não queria essa vida pra mim, ainda não tenho marido, ainda sei cozinhar melhor que as 8 juntas (nega não sabe em que sentido cortar um bife, até eu que nunca PEGUEI num bife sei fazer isso), todas têm medo de panela de pressão, tão tudo aí cheia de filho e... bom, minha vida tá igual.
Maizomenos, né? Porque eu agora tenho amigos legais, que não me excluem porque eu não tenho marido, filhos, casa própria. Chega a ser engraçado quando tá todo mundo junto, um trilhão de casais e eu garrada na almofada. Ou num copo de coca. Mas me deixa, milarga, miama, mirrespeita.
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Semana passada, saí com duas das minhas amigas mais próximas e não tive como evitar fazer piada do momento em que uma planejava o casamento, a outra planejava o primeiro filho e o máximo que eu planejo é qual esmalte eu vou passar quando voltar na manicure. Fico pensando se eu sou assim tão vazia mesmo ou se é só a sociedade opressora que me faz sentir um lixo porque eu não tenho planos de construir uma família ou ter uma casa com cerca branca.
E, gente, cêis têm que parar de achar que eu sou CONTRA essa ideia, porque não é verdade. Eu só não tenho isso como objetivo de vida. Nada demais.
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Mas mesmo que a gente saia do campo sócio-sentimental. Eu tava lá me correspondendo com o support group #1, quando me dei conta de que tem um evoluindo no trabalho, mudando de cidade, sendo feliz por perceber que sobreviveu à saída da casa da mamãe e pode rir na cara da sociedade. Outro que garrou o destino da vida amorosa nas mão, parou de se contentar com o mais ou menos e, de repente, muda até de país. E o último, que teve coragem de trabalhar com o que gosta, pode combinar com a vida boêmia de que tanto aprecia, vê um futuro de glória, poder e riqueza pela frente e fez as pazes com o passado.
E eu? O que eu fiz?
Nada.
Não vou mudar de cidade, de país, de bairro. Não vou sair da casa da minha mãe, não vou mudar de trabalho (pelo qual não dá exatamente pra ter amor, sejemo franco), não tenho *censurei*, não gosto de vida boêmia, não vejo glória, poder e riqueza no horizonte e eu só tenho é rido na cara do meu passado, com os babaca que me tratavam mal se lascando na minha frente um por um. Que vidinha mais besta.
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Aí a impressão que dá é que todo mundo resume meus problemas ao fato de que OMG eu tenho 30 anos e estou sozinha. Nossa, hein, foi bem aí falhei na vida, o resto tá diboua.
Ah, vá.
Mas vamo ficar com esse raciocínio, porque é mais fácil.
Eu costumava achar que eu fico assim sozinha porque eu sou muito especial. Vamo falá a verdade: eu sou a pessoa mais inteligente que eu conheço. É verdade, desculpa. Tá certo que eu enfio essa inteligência toda no fiofó e não faço uso dela com muita freqüência, o que me torna a pessoa mais imbecil do mundo, na verdade, mas os neurônio tão tudo aí, só esperando uma oportunidade. E eu sou linda, né? Mas não sou esforçada, de modo que eu sou feia, se você parar pra olhar, mas a genética tá toda aí, esperando só eu parar de ter preguiça. E eu sou independente pra burro, nem opinião eu peço, mas eu moro na casa dos meus pais, de modo que eu sempre tenho que avisar quando vou chegar mais tarde em casa, mas eu posso ir morar sozinha na hora que eu quiser.
Vamo resumir: eu sou linda, inteligente, engraçada, divertida, leal, altruísta, independente e rica. Não é pra qualquer um. Aí eu fico vendo filmes com personagens que são só 10% do espetáculo que eu sou e todo mundo chamando a pessoa de jóia rara e não deixando escapar e eu muito concluo que se eu fosse tudo isso aí mesmo, ia ter disputa por mim a tapa, na porta da minha casa. Né?
Não ocorre.
E aí eu acho que, na verdade, eu fico sozinha justamente porque eu não tenho medo de ficar só.
Só enquanto desprovido de companhia momentânea (ou em longos períodos de tempo), i mean.
Já cansei de falar o quanto eu aprecio a minha própria companhia. Inúmeras vezes eu digo pra todas as pessoas do universo que eu tenho um compromisso e vou pra uma cabaninha no meio do mato ficar comigo mesma. Depois eu me levo pra tomar um lanche, ver um filme, comprar umas roupas, dar uma volta de carro à noite. E depois eu e mim mesma vamos de mãos dadas pra casa, ficar no sofá assistindo televisão até dormir. E a gente adora.
É claro que eu aprecio a companhia alheia, que tem um colo (um só mesmo, literalmente) onde é divertido assistir filmes ruins dublados e na record, mas eu fico bem sozinha.
E aí eu fico com medo de acordar um dia com 58 anos e perceber que eu deixei alguma coisa muito legal passar, só porque eu fiquei com medo de estragar esse relacionamento tão bonito que eu tenho comigo.
Porque sempre chega um dia em que eu não tô disponível pra passear comigo mesma (poxa, até eu fico insuportavelmente chata de vez em quando) e todo o resto do universo tem mais o que fazer. Com seu parzinho ou com seu monte de desparelhados. E eu acabo sempre ficando de fora.
Eu não sei o que eu quero.
Tenho medo de morrer e ninguém ir ao velório. Hahaha.
Meu epitáfio só vai precisar de duas palavras: forever alone.