Como é difícil a vida da pessoa que adoraria viver em ambiente esterilizado. Lembro que eu desenvolvi amor por aquele programa extreme makeover home edition depois do dia em que construíram uma casa com filtro de ar. Eu queria um desses.
A pessoa alérgica sofre, gente.
Bom, o caso é que meu ambiente de trabalho é insalubre pra minha pessoa. Tipos que a cidade onde eu moro é insalubre, mas meu ambiente de trabalho é a insalubrelândia. Acho que só tem mais pólen dentro dos parques da cidade, e olha lá. E aqui é tão grande e tão verde que to-do-san-to-di-a tem alguém cortando a grama. Hoje de manhã achei que ia ter um choque anafilático e não tia ter chapolin nenhum capaz de me defender.
O caso é que eu tento minimizar os danos com soro, comprimidos, álcool e o que mais eu puder, pra pelo menos a minha mesa ser um refúgio.
O problema é que nos longos anos que eu trabalho aqui, eu travo uma luta sem fim com as faxineiras. Aposto que tem uma foto minha no teste de seleção dessas criaturas e o objetivo delas é o extermínio. Acho que já sei até quem é o dono da empresa pra qual elas trabalham, hein?
A rotatividade dessas cerumanas é alta. Não lembro de nenhuma que tenha durado mais que um ano, de modo que já passei por tudo que é tipo de nelvoso.
Porque assim. Inventaram um sistema aê em que elas chegam uma hora antes do galero do administrativo e almoçam uma hora mais cedo também. Isso dá a elas DUAS HORAS desencontradas, pra que elas possam justamente limpar nossas lindas salas e banheiros sem atrapalhar o bom andamento do trabalho. Quiqui elas fazem? Se enfiam em algum lugar até o povo começar a chegar e limpam tudo com a gente dentro. É aquele nevoeiro de pó na minha sala que me faz contar até um milhão de trás pra frente pra não matar uma serviçal. Comprar meu remédio de asma com preço exorbitante ela não vai, né?
Aí a fofa vem querer limpar a minha mesa no momento em que eu chego nela. NÃO VAI, SANTA. Cada funcionária nova eu tenho que avisar: se eu for vista chegando, vaza. Eu tenho meu próprio kit álcool-perfex (porque elas não sabem limpar nada, anyway), sai daí que eu limpo. E a tia atual, destemida, parece que fica atrás da porta me esperando chegar. Corre pra minha mesa junto comigo, sai tacando tudo pelos ares e eu tentando usar minha técnica sobrenatural de desmaiamento de humanos, que ainda não está aperfeiçoada. Ai dela, na hora que funcionar.
Já teve piores, né? Teve a que não só me esperava chegar, mas reclamava da quantidade de bonequinhos na minha mesa. E, mesmo eu MANDANDO não limpar, ela limpava. E deixava cair tudo no chão. Ela matou algum personagem meu da Marvel (apaguei da memória a experiência traumática) e eu disse que se pegasse ela perto da minha mesa de novo, ela ia engolir a vassoura do avesso. Nunca mais nenhum bonequinho meu foi quebrado.
Teve também aquela que não compreendia o conceito de ordem. Ela até limpava minha mesa antes de eu chegar (preciso dizer que eu aviso pra todas elas que não é pra mexer na minha mesa e elas limpam mesmo assim?), mas tirava tudo do lugar. Olha, é raro o dia em que um processo dorme na minha mesa, raro mesmo. Mas o dia em que isso acontece, tudo fica aqui com uma ordem. A querida revirava tudo, era um caos. Até meu mouse ela IN-SIS-TI-A em colocar do lado direito e pqp, larga meu mouse? Tive que pregar o pobrezinho na mesa com durex. Só sobrava meio centímetro de fio pra eu poder mover.
Teve a tia que explodiu meu transformador do ventilador e olha, essa foi difícil de não abrir as idéia com o próprio transformador derretido. Nega me pega um transformadorzinho de ventilador pra ligar a enceradeira. Abriu até um buraco no chão. O causo é que meu ventilador (material de escritório sem o qual eu não vivo) é 220V, porque aqui a gente só tem coisa capenga. E ela me condenou a uma vida de vento fraco, com ele forever ligado na tomada 110V. Levou uns 3 anos até me darem um transformador novo, que será o protagonista da história final. Fiquem ligadinhos.
Pois então tem a tia que limpa hoje
Outro dia eu tava de férias e ela abriu minha cortina (mano, nem vou comentar como nego desafia a morte mexendo na minha cortina) e teve as manha de embolar o metalzinho do trilho em todos os fios que encontrou. Levei meia hora pra conseguir mover as coisas no dia em que eu voltei. Devia ter fotografado.
Aí que ontem eu cheguei pra trabalhar e, antes de qualquer coisa, liguei o ventilador. Meia hora depois eu comecei a ouvir barulhinhos de explosão. Qué dizê, barulhinho é cortesia dos meus ouvido podre. E culpa deles também a incapacidade de localizar de onde o som vinha. Mas meus olho é bom e eu vi. Fagulhas alcançando um metro de altura, vindas do transformador, em direção à cortina. Cara, sério, não dá pra descrever o ÓDEOOOOOOOOO no meu coração.
Dei um chute pra desligar o ventilador e outros 4 pra desligar a tomada. Soltei tudo que foi fio e imagine minha surpresa quando eu percebi que a tia conseguiu a incrível façanha de ligar a tomada do transformador de cavalinho na corrente de metal da cortina. Deu pra entender? O pininho que entra no transformador é macho e duplo (igual qualquer tomada, dã) e no meio deles tava a corrente da cortina.
Peguei o transformador com o maior cuidado, achando que tava uns mil graus Celsius (mas nem tava) e achei lá o metalzinho fundido na borracha. E não dava pra usar assim, né? Fiz lá um procedimento cirúrgico envolvendo extrator de grampo, clipes e chiclete (quase um macgyver ou chuck norris) e arranquei a correntinha dali. Analisei a situação dos pinos derretidos e escolhi o que ficou em pior estado pra ficar na tomada fixa do transformador, liguei tudo na tomada orando pra Jesus, liguei o botão do ventilador e saí correndo.
Tá aí, funcionando.
O inconveniente é ter que pregar o fio todo no chão, pra ela não mexer mais. A cortina tá pregada desde dezembro, saí de férias mais duas vezes e ninguém mexeu. O transformador vai ter o mesmo destino triste. Vamos ver qual vai ser a nova forma de ela tentar me matar nos próximos capítulos.
Agora, eu te pergunto:
Quiqui essa tia tava fuçando ali?
Fica a dúvida.