famoza fora da internet hahahahaha
~Fama~ na internet é uma coisa que teve várias fases (desde que eu cheguei e ainda era tudo mato). E de acordo com o meu próprio ponto de vista também, é claro.
No começo do século, todo mundo que era alguém no mundo dos blog, o único meio de interação social não baseado em chat (que eu me lembre), tinha um blog no blogger.br. Fiz uns 3 blogs bastante equivocados antes de """acertar""" a mão e ia vivendo minha vida de blogueira irrelevante, até começar a compreender o ambiente.
O blogger.br tinha algumas formas rudimentares de impulsionamento dos blogs.
- atualizações recentes
A coisa mais bocó que existia, porque tinha uns fidideus que passavam o dia colocando e tirando um ponto final e dando F5, só pros seus maleditos blogs ficarem ali naquela listinha. Funcionava com outros bocós. Porque assim: quando você atualizava seu blog, especialmente em horários ~não ortodoxos~ seu link ficava lá e era uma enxurrada de comentário ruim de gente que nem sabia o que tava fazendo por lá. Mas era um jeito de fazer seu blog subir em views, acho que não tem quem não tenha usado a técnica.
- blogs of note
Esse era um top 10 semanal que eu não sei se era em ordem de preferência ou se era aleatório. O importante é que seu bloguinho ficava ali numa lista na página inicial A SEMANA INTEIRA.
A parte boa era que se você alcançava essa glória, outros blogueiros "importantes" entravam no seu blog e, em alguns casos, respeitavam a sua pessoa dali em diante. Lembro que meu objetivo era ser amiga de um rapaz que atendia por ~tomate~ em um blog chamando ~abobra~ (vegetarianismo gone wrong), que vinha a ser o melhor blog daqueles tempos. E super funcionou. Não sei que fim tomate levou, foi minha primeira internet crush e até hoje eu não sei A CARA QUE ELE TINHA, porque foto digital era um troço raro e a taxa de transferência era precária, a ibagem das pessoas era bem pouco importante, eu acho.
Fui blogs of note duas ou três vezes, não sei. Era sempre um rebuliço quando acontecia, porque chovia comentário no blog e já naquele tempo o usuário padrão de internet não era exatamente a criatura mais bem versada no idioma vernáculo e a gente tinha que começar a aprender a lidar com interação idiota.
- what's up
A seção mais legal da página inicial, era uma recomendação personalizada, dizendo a razão pela qual seu blog era muito legal e deveria ser visitado. Era atualizada de 2 em 2 dias, mas ficava como uma timeline e acho que você aparecia uns bons 15 dias na página inicial.
Esse era o melhor de todos, porque envolvia LER, então dava aquela™ filtrada na audiência e só trazia leitor legal. Também saí nesse umas duas ou três vezes? Não lembro. No conjunto total de coisas, era até bem pouco, mas eu não conheço muita gente que tenha figurado lá, então vou fingir que era importante.
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Nesse tempo, algumas pouquíssimas pessoas tinham blogs fora desse eixo. Tinha o pessoal legalzão do blogger.com (muito mais inteligentes que nós, obviamente, não tiveram que migrar quando ele se divorciou do .br, virou parte do grupo globo e eventualmente morreu), tinha o pessoal MAIS LEGALZÃO AINDA que tinha blogs em outros sistemas, vinculados a portais ou iniciativas de literatura, por exemplo, e tinha a galera do weblogger, que jamais entenderei.
Desse pessoal de portal, sempre tinha as pessoa que conhecia pessoas. Por exemplo: um blog famoso no blogger.br, que eu sempre lia, linkava um outro blog cujo nome era o nome do dono. Um desses nomes tão singulares, que eu sabia que não podia ter outro no mundo. E era mesmo um coleguinha meu de infância. Esse coleguinha, parte de um site que tinha escritores blogueiros (veje o caminho inverso, como era bonito). Além disso, ele trabalhava na televisón e conhecia personalidades famosíssimas como Marcelo Tas. A quem acabei conhecendo numa palestra sobre mídias sociais, no começo de 2005.
Cê veje: o tema da palestra era um troço novíssimo que tava tomando conta do país, chamado ORCÚTE. Eu e ele já éramos ~amigos~ de rede social por conta do amigo em comum e por eu viver participando daquelas matérias do link do Estadão (socorro) e lembro de ele colocar um print da página de amigos no slide e minha foto estar bem no meio da ibagem. Marcelo Tas, uma pessoa CHEIA dos amigo, tinha um total de 50 pessoas em sua lista de amizade, você veje a fase inicial do orkut nessa altura. Aí ele perguntou "quem aqui nesta sala sabe o que é orkut e tem um perfil?" e TRÊS pessoas levantaram a mão. Era um auditório de mais de 300.
Eu, de minha parte, tinha sido convidada pro ORkut logo nos primórdios, porque sempre tive amigos innovators e bem conectados. Entrei na comunidade como ou não como quando eram menos de 100 membros e consegui fazer amigos que permanecem na minha vida até os dias atuais.
Nessa época, pessoas que hoje são grandes nomes do passado (mas naquele tempo eram os famosos blogueiros do momento) faziam parte de comunidades sobre blog e interagiam com as pessoas como se fossem mortais (ryzo). Gente que ganhou o título de pro-blogger por deixar o trabalho convencional pra se dedicar e ganhar dinheiro com blogs. Foi quando eu quase abandonei o meu, porque eu achava toda a vibe pro-blogger ridícula.
Algumas pessoas se preocupavam em manter o público que conquistaram com a qualidade (qualquer que fosse) das suas postagens, mas teve o pessoal que descobriu como conseguir link de gente trouxa e passou a ganhar 6 mil real por mês. Se já é muito pra ganhar sem fazer nada hoje, cê leve pra economia de 10 anos atrás esse valor. E gente que tinha bons blog começou a ser ultrapassada em rendimento pelos caça-trouxa. Pessoas cujos nomes não direi, mas eram famosas pela qualidade das postagens, se transformaram em grandes babacas esnobes, que desfizeram amizade com todo mundo que não era relevante. Caças-trouxa seguiram dois caminhos: mantiveram seus blogs bosta OU se transformaram em ~portais de humor~, eu poderia dizer meia dúzia aqui de boboca com quem eu convivi de perto e eram realmente pessoas babacas. Tem desses infelizes que são """"""""famosos"""""""" até hoje, porque fã de babaca parece que se multiplica numa velocidade maior que o resto da população e eu me revolto quando vejo um amigo com condições intelectuais favoráveis dizendo "ô, cê já viu aquele blog/vlog/whatever?" que eu conheço desde 1820 e NÃO QUERO VER NEM DE GRAÇA. E faço campanha pro migo parar de se constranger na internet. Quer ver, vê. Mas não conta pra ninguém não.
Ali por 2008, quando já tinha mais gente na internet, o formato de blogs (famosos e profissionais) de hoje meique começou a nascer. Os famosos da época começaram a ameaçar abandonar seus blogs e seus perfis (era bem ridículo) e foram saindo das comunidades de discussão de blogs, onde sobraram os idiotas que se tornariam os xoxomídia dos anos 10. A gente passava o dia falando inutilidades, mas de vez em quando alguma coisa de útil acontecia e muita gente sabe o que sabe hoje sobre internet e relevância graças àquilo ali.
Eu conheci muita gente que hoje tem o nome conhecido na internet. Conheci grupos inteiros que eram clubinhos de que todo mundo queria fazer parte. Tem o pessoal cujo blog é profissão até hoje, tem o pessoal famoso no twitter, famoso nas redes sociais como um todo e coisa e tal. Tem MUITA gente que eu vejo postando e todo mundo compartilhando e eu sei a verdade por trás daquilo e tenho que aceitar que não posso convencer um por um de que cêis tão enganados.
Tipo: tem gente MUITO famosa (na internet) hoje, que já me deu a senha do blog nos primórdios, porque não conseguia trocar nem a fonte da postagem, nem a imagem do topo. Hoje ganha dinheiro "fazendo" montagem hahahahahahahah. É muito engraçado, eu me divirto muito enquanto ganho zero dinheiros por aqui. Mas não estamos aí ainda.
No começo desta década, as revistas - e toda a mídia escrita - começaram a perceber que estavam perdendo espaço para mídias digitais. A solução? Fazer parcerias com blogueiros ou personalidades virtuais. Isso foi evoluindo pra participação mais ampla de pessoas "comuns" da internet nas mídias escritas e foi aí que veio a fase blogueira capricho 1.0.
Eu não sei como foi feita a primeira seleção, acho que entrei na terceira leva, quando a gente entrava por indicação. Fui indicada por uma das amigas de rede social e nem acreditei quando recebi a "convocação" (a gente já foi bem mais desconfiado, né?). Fiquei por 3 anos e indiquei duas pessoas que foram aceitas, nos anos seguintes. A graça era conseguir ser publicada na revista. Porque era quando a gente podia mostrar pra vó que todas aquelas horas na frente do computador tinham um propósito SIM e se eu quiser estudar letras eu tenho talento SIM e um dia eu vou ganhar dinheiro com a minha arte SIM (ahahhahahahahahahhahahahaha). Também porque trazia leitores legais pro blog, eu sei que tem alguns que estão aí até hoje.
Ironicamente, foi a pior fase do meu blog. Escrever com limite de caractere, tema, posicionamento, rigidez linguística e tudo mais ACABOU com a minha criatividade. Eu não conseguia mais dar vida pras minhas próprias histórias e, no fim, nem pras da revista. Mas I ain't no quitter e fui arrastando aquilo indefinidamente até que eu fiquei velha o suficiente pra revista me dispensar. Foi uma choradeira, mas foi melhor pra todo mundo. E foi nesse momento que o blog reviveu pro que é hoje e o caminho natural foi abandonar o blogger.br, vir pro blogspot e aceitar o fim sem dó dos arquivos do passado. Por um lado é bom, porque eu escrevia pior ainda na década passada.
Não sei dizer se o caminho que meu blog tomou foi o que dava pra tomar ou se foi o que eu escolhi. Eu vi muita tendência, eu conheci muita gente, tenho a impressão que podia viver de blog se eu quisesse. Será que eu não quis ou será que não tive competência? Provavelmente o segundo, mas eu me iludo pensando que foi o primeiro.
O problema é conhecer DEMAIS os bastidores. O cara que tem um blog "de humor", porém chatíssimo na vida real. A menina que tem um blog pra mostrar como homem não presta e trata as amigas de uma forma horrível, além de se pegar com cara comprometido e dá a desculpa de que "se ela não dá assistência, abre concorrência". Menina dando conselho sentimental e humilhando por causa de homem que não dá bola pra ela (tem uma fia aí que me mantem bloqueada ATÉ HOJE por causa de uma história que nem era o que ela imaginava, mas eu que não vou lá pegar na mãozinha pra contar. O que eu mais via era a pessoa pregando uma coisa na internet, ganhando admiradores e "fama" e fazendo o extremo oposto na vida. Fiquei com medo de me tornar essa criatura e mantive minha vida virtual essa babaquice desorganizada que cêis conhecem, que é a mesma da vida real. Qué dizê: 98% das pessoas que me conhecem dizem que eu sou 300% menos chata ao vivo. E é verdade. Mas eu prefiro surpreender positivamente, quando é possível.
Ainda hoje conheço muita gente que no bastidor é uma coisa e na internet é completamente outra, mas já tô mais treinada pra pensar: problema seus.
Por que estou postando isso? Nem eu sei mais. Lembro que achei engraçadas algumas reações das pessoas para comigo, dizendo que ficaram surpresas com a minha ~fama~ repentina ou aquelas que siacha famosas "ai, é assim mesmo, miga", mas o curioso mesmo é que praticamente toda a minha vida virtual (arhhggg) foi assim.
AH É, XÔ CONTAR.
Eu tenho um ou outro amigo famoso A NÍVEL DE BRASIL. Outro dia um deles estava fazendo uma aparição pública para interação com fãs e me falou que teria pouco tempo pra interação, mas que seria legal se eu pudesse passar pra dar um oi. Como eu sou gente fina PRA CARAMBA, eu peguei senha (pensa no ridículo que é pegar senha pra falar com seu amigo), mas eu não queria que ficasse feio pra ele parar a fila ou dar tratamento especial pra alguém. Afinal, ninguém sabe que ele é meu amigo, né? Fiquei bem feliz com a minha decisão quando vi um conhecido nosso tentando justamente furar a fila e sendo educadamente desencorajado pelo próprio famoso em questã. "Ah, então eu espero a fila acabar". A resposta foi: aqui não vai dar, cara, é um evento profissional e eu tô com a agenda fechada. FUÉN. Bom, tava eu lá bem linda na fila esperando, quando vejo uma pessoa me encarando de forma até um pouco desconfortável. Mas eu sempre uso roupas ridículas, meu cabelo tava bem azul, eu não questionei a pessoa. E foi tão insistente que o segurança meique veio vindo na minha direção e tudo. Aí a pessoa deu um tapinha no meu ombro e falou "ssaneva?".
Pra pessoa se referir a mim assim, tem 3 possibilidades:
- muito íntima
- veio do passado
- veio da internet
Respondi que era eu mema e ela "SSANEVA É VOCÊ MEMO? DA INTERNET? NOSSA, EU NÃO ACREDITO QUE TÔ VENDO A SSANEVA, GENTE".
E era eu a própria causadora de emoção na pessoa ali naquele momento, com tanta gente mais interessante à volta.
Então, sabe?
Se eu tivesse talento, pra fama eu já tava preparada.
(hahahahahahhahahahahahahahahahhahahaha)