sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

down the memory lane



parte II

IS THIS REAL LIFE? Estou mesmo continuando um raciocínio? Veremos se isso se mantém até o último.ponto.final.

~nos episódios anterioresssss~ nós vimos que a pequena Vanessa quicou de escola em escola. Calma, deixa eu contar aqui: uma na primeira série, quatro na segunda - a última delas também foi a escola da terceira e da quarta - outra na quinta, outra na sexta, outra na sétima, outra na oitava e primeiro ano, outra pra terminar tudo: 10 escolas diferentes. PARABAINS.

Se eu tivesse nascido loira e rica, talvez isso não fosse um problema. Mas eu sendo eu, pelamor.

Por exemplo. 

Eu fiz uns 15 minutos de maternal e foi tão traumático que eu nunca mais quis voltar pra escola. Bárbara, a responsável por essa tragédia, já teve publicidade demais nesse blog ao roubar meu giz vermelho, não quero falar mais dela. Só preciso dizer que não teve lancheira da mulher maravilha que me convencesse a ir pra escola até 3 anos depois. Meu pequeno eu tinha acabado de fazer 6 anos e minha mãe sabia que a pré-escola mataria de vez minhas habilidades sociais (nunca soube dividir, nunca quis aprender) e me matriculou logo na primeira série. Foi AQUELA discussão, porque onde já civil uma criança de 6 anos na primeira série, não vai estar sendo possível. Minha mãe pediu pelamordedels e eles me deram uma chance.

A tia foi lá e perguntou quem sabia as letrinhas e eu sabia as letrinhas. Ela disse então que pra começar, todo mundo tinha que fazer o "a" na folha inteira. E eu reproduzo literalmente o que ela disse: façam o a na folha inteira. O que ela queria e todas as outras crianças fizeram:


Cinco segundos depois, eu tava berrando que acabei. A tia ficou chocada e pediu pra ver meu caderno, onde constava isso:


Ao contrário do que todo mundo pensa, eu fui admitida forever na primeira série e todos me amão por essa belíssima interpretação literal. (Se fosse hoje, era capaz de diagnosticarem autismo, eu acho.)

E daí pra frente foram só momentos de glória. Como o dia em que eu pedi pra professora me dar uma mesa na parede. Você se pergunta a razão e eu te digo: você era um pequeno infante nos anos 80, amado leitor? Se não era, nunca vai saber qual era a forma cruel de divisão de classes da época, a caixa de lápis de cor. Não existia a casa china. Não existiam as lojas americanas. Existiam duas marcas, que poderiam te levar ao topo ou ao fundo do poço. A primeira, Faber Castel. A segunda, Labra. Me responda qual delas é a que você lembra, que tem a música do toquinho, que resiste aos tempos e qual ninguém queria ter.

Pois minha mãe não apenas comprou uma caixa da Faber Castell, comprou uma com TRINTA E SEIS FUCKING CORES. E ó que eu estudava em escola de gente rica sem ser rica e ninguém mais tinha aquela caixa de lápis do amor. Minha caixa continha cores maravilhosíssimas como dourado e rosa bebê. NÃO PEGA NOS MEUS LÁPIS!!!111 Cê dividiria sua caixa de lápis de 36 cores com os outros? Eu nem morta. Ainda mais as cores que ninguém tinha, não vem com esses cinco dedo na minha direção. De modos que assim que eu ganhei minha mesa na parede, eu passei a deixar a lancheira tipo uma paredinha do lado livre e ameacei o coleguinha da frente pra que não virasse pra trás se quisesse conservar os dois olhos e TCHARAM, ninguém mais tinha acesso aos meus lápis do amor. Pensa na vida social da criança.

Aí minha mãe me tirou da escola rico extreme e passou pra outra médio rico (hahahaha), onde aconteceu o drama do rim esculhambado. Só que depois do drama do rim, veio a cirurgia do rim, seguida pela recuperação da cirurgia do rim. A escola inteira foi avisada de que não podia me encostar de jeito nenhum, de que eu não podia carregar nada, ficar muito tempo em pé, sentar no chão, correr, ficar sob o sol, subir escada, descer escada, ficar muito tempo sem ir ao banheiro (oremos), etc etc etc. Uma princesa no ambiente. Passei o ano fazendo essa história render. Já tava ótima, brincando de pega-pega e andando de patins como se houvesse dois rins em casa e fazendo a dramática na escola. Me acostumei com a moleza de viver naquele lugar exclusivíssimo, cheio de gentes fazendo minhas vontades, até minha família quebrar completamente e me enfiar numa escola pública HAHAHAHAHAH.

Eu ainda tinha aquele aspecto super saudável de criança desnutrida, mas meu cabelón maravilhoso foi cortado na machadada por causa de uma discussão com a minha mãe e eu fiquei parecendo um menino muito feio e muito magro. Escola pública, sem uniforme, começo dos anos noventa, um resto ainda do belíssimo senso fashion dos anos oitenta, grazadeus há pouquíssimos registros fotográficos da minha pessoa nessa época. Mas não consigo contar nos dedos quantas vezes alguém me barrou no banheiro feminino HAHAHHAHAHAHHAHA. Eu rio agora, mas naquele tempo eu chorava D:

Esse ano foi mágico. Todas as meninas desencalhando e eu parecia um menino. Todas as meninas cheia das curvas e eu parecia um menino. O cabelo de todo mundo perdendo o corte chitãozinho e eu parecia um bendito menino. Peguei nem gripe, obviamente. E assisti as meninas todas pegando todos meus pretendidos. 01 alegria em forma de sexta série. 

Mas se tinha uma coisa que eu achava incrível na escola pública, era o fato de as pessoas ganharem o lanche em vez de comprarem. Eu não conseguia compreender como um lugar podia DAR comida em vez de vender superfaturada hahaha. E todo intervalo era a mesma coisa, a fila gigantesca e eu SEMPRE numa posição privilegiada, porque se tem uma coisa que me motiva nessa vida, essa coisa é comida. 

Um dia eu tava lá na fila do pão com geleia de morango feat. leite com chocolate, meu lanche favorito de todos, concentradíssima na mentalização por um pão entupido de geléia, quando o maloqueiro oficial da escola e seus dois capangas me empurraram pro lado e disseram "esse lugar na fila é meu". Respondi que não e voltei pra onde eu estava. Eles me empurraram de novo e eu voltei pro lugar mais uma vez. Na terceira vez que me empurraram, a coisa mais imbecil do mundo aconteceu. Um dos aprendizes de maloqueiro se ajoelhou pra amarrar o kichute falsificado exatamente na hora em que eu empurrei o maloqueiro chefe, gritando enlouquecida NINGUÉM ROUBA MEU LUGAR NA FILA DO PÃO COM GELEIAAAAAA. Maloqueiro esse que caiu por cima do bocó abaixado e bateu a cabeça no chão, numa vibe bem três patetas. Por alguns segundos, fez-se aquele silêncio absoluto na área da merenda, todo mundo olhando pra mim e pro menino estatelado no chão. Minha amiga - amiga desde que a gente tinha 4 anos, amiga até hoje - vem no meu ouvido e diz "meu, se eu tiver que dar pra sua mãe a notícia que você morreu na escola, ela vai me matar também".

Nisso o menino recobra a consciência, levanta do chão e vem na minha direção. Eu, inabalável (só que nem um pouco, tremendo igual vara verde), mantendo minha posição na fila. Ele olha no fundo dos meus olhos e diz "Xirra (ele me escreveu milhões de cartas depois disso, me chamando de She-ra nessa linda grafia), te respeito. Pode ficar com seu lugar na fila. Mas só porque eu acho lindo seu olho amarelo."

Tô de parabéns ou não tô?

De um semestre pro outro, meu cabelo cresceu, meus peitos foram de zero a 44 (precisava, universo? Tinha necessidade?), eu tinha o amor dos três maloqueiros mais temidos da escola e ganhava lanche toda tarde. O que mais eu poderia querer? Um tacape? Um amor?

Em algum ponto desse semestre, também tivemos a melhor aula de educação artística do ano. A professora ensinou a fazer papel machê e pediu pra que a gente fizesse alguma coisa, QUALQUER COISA, pra dali algumas semanas, misturando papel machê com algumas porcarias que ela distribuiu pela sala. Eu ganhei uns retalhinhos, um pedaço de cabo de vassoura e um daqueles telhadinhos do meu pequeno engenheiro. 

Peguei minha gororoba e me fechei na lavanderia de casa, sem a menor ideia do que fazer com aquilo, porque escultura nunca foi minhas ~vibe na arte~. Fui misturando a meleca toda e não conseguia dar nenhuma forma praquilo, de modos que fiz uma bola gigante e botei o cabo de vassoura enfiado e deixei secando e o negócio ficou parecido com 

uma maça

Não tinha o que fazer com aquilo, então eu tentei pintar de vermelho e usar os tecidinhos pra dizer que era uma maçã (got got) do amor. Não deu. A tinta manchou, o tecido não era suficiente, deu tudo errado. Quanto mais eu tentava pintar, pior ficava. Até que a bola ficou preta, o cabo ficou preto e o telhadinho colou no meio da bola de modos que VIROU UM SACI hahahahahaha. Taquei o tecidinho como se fosse o chapéu e jurei pra todo mundo que o tempo todo eu quis fazer um saci pererê, ó que prendada. Não deu cinco minutos depois que a aula acabou pro troço virar o que nasceu pra ser, uma belíssima arma medieval como a da foto, que eu tacava nas fuça de qualquer um que quisesse rir do meu saci. Taquei por engano num menino que eu achava lindo e amava profundamente, porque ele aproveitou esse momento xirra xena guerreira pra dizer que queria namorar comigo e eu achei que ele estava me zuando. Não estava. 

*****

Depois de estudar por um ano com a nata da sociedade paulistana ~ryzo~, meus pais resolveram dar um rumo na vida se mudando pro interior. Não é maravilhoso? Spoiler: não. E o acordo era que dessa forma eu voltaria a estudar em escolas incríveis pro intelecto infanto-juvenil e seria presidente da república um dia e blábláblá. Chegamos na cidade incrível (não) que meus pais escolheram e onde eu fui estudar? Isso mesmo, numa escola pública horrorosa. Não que não houvesse uma escola pública boa, mas aquela era a única em que minha mãe tinha coragem de me matricular pela proximidade de casa, jurando que eu aprenderia o caminho e poderia ir sozinha, já que era apenas uma linha reta em seis quadras, a distância entre uma coisa e outra. Mas não havia meio de eu ir ou voltar sem me perder, então minha mãe passou dias me levando de carro, até ela perder a paciência eu conseguir me virar sozinha.

Obviamente, no primeiro dia em que eu fui sozinha pra escola eu consegui me perder (e em todos os outros 53 dias depois desses). Num desses dias, em que eu ainda não sabia direito como ir, a gente teve uma aula sobre filatelia. Eu sabia bastante sobre o assunto, já que minha mãe colecionava selos. E na minha casa tinha um álbum maravilhoso, trabalhado nos selos raros e diferentes. Comentei isso com a professora (bem típica aluna retardada, que participa da aula) e ela pediu que eu levasse a coleção no dia seguinte, se minha mãe permitisse. Minha mãe deixou, eu levei. Fiquei com ela o tempo todo e a ~visitação~ aconteceu na minha mesa, todo mundo encantado e tal. No fim da aula, eu estava parada no portão da escola tentando lembrar pra que lado ficava minha casa (isso é sério, eu nunca sabia), quando vi uma roda se formando à minha volta.

Inicialmente eu não me abalei. Eu era a rainha dos maloqueiros até alguns meses antes, ninguém ia ter coragem de fazer nada comigo, né? ERRADO. A rodinha foi fechando, enquanto khaleesi maloqueira de cidade do interior berrava que ela gostou dos selos, então agora eram dela, pra eu fazer o favor de passar e ficar quietinha. A bocó entrou no meio da roda comigo, quando eu pensava seriamente que ia morrer debaixo daquele povo todo e morrer de novo quando minha mãe descobrisse que perdi a coleção de selos. Me dei conta que minha mãe me dava mais medo que aquele povo todo junto, aproveitei que khaleesi era imbecil o suficiente pra vir cheirar meu nariz, peguei a fia pelos cabelos, derrubei no chão e prendi a cara dela no asfalto. Naquele lugar lindo em que a temperatura ao meio dia beirava os 45ºC no sol, cê imagina que gostoso que deve ter sido.

Montei na menina, a cara dela no chão, todo mundo em volta sem fazer nada. Ela tentava se soltar e eu só gritava "DESFAZ A RODA! SAI DA MINHA FRENTE! QUANDO EU SAIR DE CIMA DELA, NÃO QUERO NINGUÉM ATRÁS DE MIM, SENÃO EU RALO A CARA DELA NO ASFALTOOOOO" (quem nunca me ouviu dizendo que ia ralar a cara de alguém na brita?). As pessoas demoraram um pouco pra me levar a sério, então eu apertei a cara da menina no asfalto mais um pouco, ela gritou mais um pouco, a roda foi abrindo, todo mundo foi voltando pra dentro da escola. Quando achei que a distância estava segura, saí de cima da menina e corri pela minha vida.

Vinte quarteirões depois, percebi que não tinha passado nem perto da minha casa e nem sabia onde eu tava. Não tinha a menor ideia. Sabia que se sobrevivesse àquela temperatura ou ao possível encontro com algum coleguinha de sala, não sobreviveria à minha mãe. 

Enquanto isso, ela chegou em casa pra dar almoço pros meus irmãos. De tarde eu era a babá da galera, então eu nunca deixava de voltar pro almoço, só me atrasava dependendo do quanto eu me perdia no dia. Naquele dia, eu não chegava nunca. Minha mãe foi até a escola, onde disseram que a turma foi dispensada no horário normal e ninguém ficou na escola (contar que quase aconteceu um massacre, ninguém contou). Minha mãe saiu furiosa pelas ruas da cidade me procurando e, por algum milagre, encontrou. Eu estava sentada na sarjeta chorando um rio, desesperada de pavor de nunca mais encontrar minha família (brigada quem inventou o celular e vai privar crianças dessas sensações). Não sei se foi o meu desespero ou a minha bravura em salvar os selos - porque eu contei pra minha mãe a história toda - eu não levei bronca e não fiquei de castigo pela primeira vez na minha vida. Voltamos na escola, pegamos o endereço da menina (ó o tipo da vida naquele tempo), fomos até a casa dela e minha mãe saiu berrando com o pai da menina, que vinha a ser apenas um traficante conhecido na cidade inteira hahahahaha. Quando eu comecei a achar que daquela vez eu ia morrer MESMO, o cara olhou pra mim e pra cara toda arregaçada da menina e falou "foi essa aí que fez esse estrago na tua cara? que vergonha, merecia apanhar de novo". E a gente teve que sair de lá e ainda denunciar o cara no conselho tutelar. Que vida gloriosa essa minha.

Depois disso, ninguém na escola tinha coragem de mexer comigo, né? Nem de ser meu amigo nem nada e tal, mas isso não é importante. A gente vive bem isolado. Eu vivo, pelo menos. Grazadeus.

Só no fim do ano que um menino expulso de outra escola foi aceito na minha, viva. E a gente tava em qual aula quando se deu o perrengue? Isso mesmo, educação artística. A professora estava explicando vitrais e pediu que a gente fizesse um, do material que quisesse. Eu comprei cartolina preta e quatrocentas cores de celofane e passei dias desenhando uma arara cheia de detalhes, depois recortando o contorno da bendita arara cheia de curvas na cartolina, depois cortando celofane, colando celofane, deixando o negócio tão maravilhoso que nem eu acreditava que tinha sido feito por mim mesma. Ao mesmo tempo, achei bem básico e simples, achei que todo mundo tinha tido a mesma ideia. Não tinha. Meu vitral estava mesmo chamando a atenção, tinha ficado a coisa mais linda que meus dons artísticos seriam capazes de fazer. O expulsinho ficou #chatiado depois do milésimo elogio da professora e, assim que ela me entregou o vitral de volta, puxou da minha mão e tacou no ventilador de teto.

FIM.


*****

No ano seguinte eu voltei a estudar nas melhores escolas. E oremos por isso, porque foi quando a fase piriguete juvenil foi iniciada e não quero nem pensar no estrago de acabar me interessando por esses jovens delinquentes atiradores de coisas alheias no ventilador. Não acho que fosse possível, mas nunca se sabe. Só tenho a agradecer pelo maior drama da minha vida depois disso ter variado sempre em tópicos do tipo "qual desses dois irmãos é o mais inteligente, o mais velho ou o mais novo?" ou "prefiro meninos do terceiro ano da escola ou da faculdade?" ou até mesmo "assisto aula de física da minha turma ou da turma de engenharia?", optando sempre pela segunda opção e levando uma vida muito feliz, a ponto de desejar viver pra sempre nos 15 anos.

Nunca mais ralei a cara de ninguém no asfalto, derrubei ninguém com a cabeça no chão ou rachei os miolos de alguém com um tacape, mas nunca se sabe quando vai surgir uma nova oportunidade, né?

:)

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

down the memory lane

parte I

(Não que eu esteja aqui publicamente me comprometendo com a parte II, eu nunca lembro de fazer a outra parte desses negócios que vêm na minha cabeça.)

aquela forma física causada por uma parte do organismo morrendo, ou "eu, aos 9 anos".

Na minha casa, a gente sempre tenta jantar com o maior número de familiares possível, porque é a única hora do dia que tem mais que duas pessoas em casa. A gente estava lá comendo deliciosas delícias ôntiônti, com a tv movida à antena de bombrill ligada no Jornal Nacional, alguma reportagem citando fatos históricos acontece, minha mãe lembra de uma coisa, outra, outra, começamos a falar sobre meu irmão ter chegado em casa da maternidade exatamente no dia da posse do Collor. 

Isso não tem importância nenhuma pra história [da minha família] hahaha.

*****

Então eu comecei a falar sobre coisas que meu irmão não lembrava, já que ele é 10 anos mais novo que eu e a gente normalmente ainda leva uns 5 anos pra começar a guardar memórias e tal. Coisas sobre a minha infância e a da minha irmã antes de ele nascer. Coisas depois de ele ter nascido, mas que nunca se lembraria. Ficamos quase uma hora rindo dos absurdos, tipo o dia em que meu irmão dormiu à tarde pela primeira vez na vida e minha mãe quase chorou, porque ele tinha quase dois anos e nunca tinha dormido mais de duas horas seguidas e eu e minhas amigas resolvemos """cantar""" ~aquela~ música da Deborah Blando nas alturas e minha mãe veio desesperada mandar todo mundo calar a boca antes do uivo final.

Depois de um tempo, minha mãe falou com muito amor no coração "nossa, Vanessa, você geralmente só tem memória ruim, nem acredito que tá lembrando só de coisa boa". ¬¬

E eu fui explicar que as memórias "ruins" são mais engraçadas, geralmente. E eu normalmente só reclamo dos retards que fizeram da minha vida um pesadelo quando eu era criança, mas em casa, minhas memórias são predominantemente boas.

Não sei o que aconteceu, sério mesmo, não lembro como foi que a gente virou da palhaçada pra catástrofe - e eu tenho certeza de que não fui eu - e minha mãe começou a falar de um tempo que começou a dança das escolas comigo e minha irmã (teve um ano em que eu estudei em QUATRO escolas diferentes hahaha). E me disse que me trocou de uma escola que eu amava pra uma outra bem menor e ~exclusivíssima~ - minha sala tinha apenas cinco alunos e nenhuma sala tinha mais que 12 - porque minha irmã era meio desinteressada pelas maravilhas da educação e precisava de atenção total pra gastar seus preciosos minutos com a escola. Eu dou razão pra ela:  nessa época eu tinha 10 anos e ela 5, que coisa horrível ter que ir pra escola com essa idade.

*****

Foi nesse mesmo ano que meus pais descobriram que meu rim estava morrendo lentamente desde que eu nasci. Eu estava passando as férias de verão na casa da minha avó e um dia eu não comi. Me ofereceram até brigadeiro e eu não comi. Me deixaram de castigo porque eu não comi e não podia entrar na piscina e eu nem reclamei. Me deixaram ir pra piscina porque eu tava muito baixo astral e, depois de nadar por uns 20 minutos, eu dei um grito de horror tão horroroso que meus pais só me pescaram lá de dentro e levaram pro hospital, onde o médico descobriu que alguma coisa estava MUITO errada com meu rim e eu vomitei o que eu não tinha comido por horas. Minha mãe me disse que eu passei a noite no hospital e eu sinceramente não tenho nenhuma memória desse fato. No dia seguinte, voltamos pra São Paulo e começou a maratona até me abrirem, verem que o rim não tinha salvação, consertarem o que dava e eu ir viver. Três meses disso, dois deles indo pra escola normalmente.

Cêis já ouviram aquela história que cólica de rim supera a dor do parto? Pois é, isso é pra quem tem pedra. De acordo com meu médico, minhas dores eram dez vezes piores que uma cólica de pedra. OUSSEJE. Passei mais noites no hospital nesse período do que consigo contar. E às vezes era na escola que essas cólicas aconteciam e minha mãe tinha que me buscar correndo e levar pro hospital. Eu ficava alguns dias meio destruída, melhorava e levava a vida até acontecer de novo.

Na semana anterior à minha cirurgia eu estava relativamente bem. No hospital toda hora pra exames, acabava que tava sempre medicada, tava sossegada. Numa dessas tardes de relativo sossego, fui pular amarelinha no fim da rua, onde tinha uma amarelinha permanente pintada no asfalto. Todas as ruas do condomínio eram sem saída e a amarelinha era bem no cantinho. As poucas vagas que ficavam ali eram ocupadas por pais que trabalhavam o dia todo, não tinha perigo nenhum. Eu estava de costas pra rua, pulando, a rua vazia. VAZIA. Um dos milhares de retardados que moravam naquele condomínio (daqueles que faziam da minha vida um pesadelo, como eu disse antes), estava andando de bicicleta na minha rua, apesar de a rua dele ficar bem longe da minha. Em vez de virar antes e voltar por onde veio, em vez de dar a volta na amarelinha (a rua é larga, cabem mil bicicletas), em vez de fazer alguma coisa útil da vida, esse imbecil esperou eu pular com as pernas abertas e veio pra cima de mim com a bicicleta. As rodas bateram no meio das minhas pernas e o guidão bateu nas minhas costas bem na altura do meu rim. Eu não escutei ele vindo (surda), não esperava ser atingida por nada, porque a rua estava vazia até dois minutos antes, caí com a cara no chão. Quando eu caí, ele passou com a bicicleta por cima de mim e das minhas costas. PARABAINS.

Fiquei com medo de contar pra minha mãe (10 anos, gente. 10 anos) e chorei na rua até parar de doer, fui pra casa, fiquei quieta, passou e de noite eu fui dormir me sentindo bem. Fui normalmente pra escola no dia seguinte, onde tive a pior cólica de todos os tempos. Senti a dor começando (se você nunca teve uma cólica de rim, tente imaginar como se um gancho te fisgasse pela cintura e fosse te rasgando de dentro pra fora). Tentei arranjar uma posição pra ficar na cadeira, mas a dor passou de horrível pra insuportável em menos de cinco minutos e eu não conseguia parar de gritar, nem abrir os olhos e eu caí da cadeira e comecei a me debater no chão e ninguém sabia o que fazer porque nunca tinha sido assim tão horrível. E cada vez que alguém me encostava eu gritava mais ainda, porque era como se eu estivesse sendo flechada por todos os lados, então não dava pra me ajudar a levantar, não dava pra fazer nada.

Em 1991 não tinha celular, só quero lembrar todo mundo disso.

Alguém lembrou que eu carregava remédio na mochila, trouxe água, pegou o comprimido e eu lá tentando respirar, sentar, engolir ao mesmo tempo, tomei o remédio e a dor passou pra um estágio em que eu consegui pelo menos sair da sala pra que a aula continuasse, pra ir berrar por outros lados. Ligaram na minha casa por horas, da primeira aula até a última e ninguém atendia. Não tinha como encontrar minha mãe. Não sei a razão de nenhum gênio ter ligado no trabalho do meu pai, de repente ele dava um jeito, pegava o carro de um amigo, SEI LÁ, alguém salvaria a criança, né? Ninguém chamou ambulância, nada. Não consigo nem imaginar uma idiotice dessa nos dias de hoje. Só sei que eu fiquei no chão da secretaria me contorcendo e gritando até a hora da saída.

Quando minha mãe finalmente chegou, eu estava rouca, roxa, com as mãos destruídas de tanto apertar as unhas nas palmas, acabada, querendo só morrer de uma vez praquilo acabar. Ela estacionou na frente do portão da escola, e eu, com toda a finesse que aquela manhã me proporcionou, perguntei:

- ONDE A SENHORA ESTAVA A MANHÃ INTEIRA QUE NÃO ATENDEU O TELEFONE?

HAHAHAHAHAHHAHA

Gente. Eu sei. Só eu sei a dor que eu senti, mas reflitam sobre uma criança de 10 anos falando nesses termos com a mãe, se fosse minha filha eu matava. Fui ouvindo a bronca da escola até o hospital, foi delícia os gritos com aquela dor. Obviamente não tenho a mais remota lembrança de como esse dia acabou, porque provavelmente doparam até a minha alma. Alguns dias depois, meus pais pagaram todo o karma, porque meia hora depois que eu entrei em cirurgia, meu avô morreu e meus pais tiverem que me deixar no hospital assim que eu acordei pra irem ao velório a 400km dali. Não fiquem bravos com eles. E eu passei 10 dias no hospital e ele não conseguiram nem voltar a tempo de me buscar, meu outro avô que fez isso. 

E aí eu estava contando essa história pro meu irmão, que tinha mais ou menos um ano na época do ocorrido (a festa dele foi uns dias antes dessa desgraceira toda aí e eu fiz a cirurgia na semana seguinte) e dizendo que toda vez que alguma coisa em mim dói eu lembro desse dia pra parar de reclamar.

Aí minha mãe interrompe e diz:

- o pior você não sabe. A resposta pra sua pergunta naquele dia era shopping. Eu tava no shopping.

AHHHHHHHHHHHHHHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHHAHAHA

Quase caímos os três da cadeira de tanto rir. E eu tinha razão: as histórias mais trágicas são sempre as mais engraçadas, quando todo mundo sobrevive no final :P

É apenas muito amor essa família ♥


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

oi, tudo bom, como vai?

quando eu ainda era bonita só que não muito


CÊIS AINDA VÊM AQUI?

Gente, deixa eu falar. Eu não consigo funcionar muito bem nesses períodos de 15 de dezembro a 15 de janeiro por mais que eu tente. Que época horrível, que insuportável que fica o mundo, que calor desnecessário.

Por exemplo. Cê entra na internet e o que que tem? Milhões de pessoas fazendo resoluções de ano novo? Adorariam enfiar resoluções no fiofó? Acorda amanhã dando bom dia pro vizinho, beijando o português da padaria, dando flores pro delegado. PRECISA esperar o ano virar? Aí vira, mas férias. Aí acaba, mas carnaval. Aí foi, mas copa. ARRRGHHHHH. E outra. a resolução de todo mundo é igual. Ser mais feliz, viajar mais, comer saudavelmente, fazer exercícios, pelamor dos meus filhinhos que nunca terei, sério mesmo? Como todo mundo é boring, que saco.

Tem também o bonde do feliz natal. Nego vai sair de férias dia 10 de dezembro e não vai te ver mais, o que ele faz? Te deseja feliz natal. HOJE AINDA É DIA 10, SEU IMBECIL. Vai desejar feliz natal pra tuas nega. Quero nem saber, gente. É igual pessoa que fala boa tarde meio dia e um e logo corrige "ou bom dia, não sei se você já almoçou". PFV, chega.

Aí os mesmos retardados do feliz natal dia 10 de dezembro voltam a trabalhar dia 10 de janeiro te desejando feliz ano novo. FELIZ ANO NOVO MEU OVO meu forte é a rima. Amigão, eu aceito feliz ano novo até meio dia do dia dois. Se você só me vir depois do dia 6, vamos todos ignorar apenas? É possível? Ontem veio um desses babaca me desejar feliz ano novo, virei e fui embora sem prosseguir a conversa. A pessoa fica #chatiada, né? E eu pergunto: se você só me visse 18 de março, desejaria feliz ano novo? Em 27 de outubro? ENTÃO NÃO.

Por isso eu fico reclusa, gente. Porque não lido bem nível maracugina.

****

Vamos agora aos ~virada de ano's tales~, porque eu super quero contar coisas maravilhosas que só acontecem nesse período mágico de 15 de dezembro a 15 de janeiro pra dar o clima.

Bom, no meu trabalho a gente nunca sabe se feriados serão emendados, se fins de ano terão recesso, se férias serão homologadas. É sempre um mistério. Normalmente a gente descobre as respostas pra perguntas tão difíceis às 17h do dia anterior, sendo 17h o horário de saída. Acho prático, acho motivador. Então dia dezenuóve de dezembro, dia de sol azul, eu estava aqui estressadíssima e encalorada pensando se teria que baixar breaking bad ou se assistiria pelo netflix mesmo no trabalho, porque TRABALHO é uma coisa que não existe em universidade nessa época do ano, quando fui informada de um belíssimo recesso do dia 20 ao dia 6. Não comemorei em voz alta, por motivos de pavor que alguém mudasse de ideia e eu tivesse que engolir o choro e tal.

16:35h minha mãe entra na minha sala. "O prédio inteiro já foi embora, vamo também?". Mas é claro que não, minha senhora. Falta quase meia hora, sossega aê. E ela revoltadíssima, dizendo que mal tinha mosca voando neste campus, pelamor, para de ser assim tão pentelha e blábláblá.

16:52h minha mãe percebe que estou falando mais que o normal pra distrair do relógio e começa a fase dois do discurso "mas não dá pra ir fechando as janelas, desligando as coisas e bláblábláblá?" Digo que não, porque quando foi 16:59h, alguém vai entrar na minha sala com olhos arregalados e respiração descompassada, porque tem alguma coisa que precisa sair com a data de 2013 e só eu tenho competência pra fazer.

Dá 16:59h no relógio e minha mãe me olha com o olhar mais fuzilante que ela consegue. 16:59:47 entra meu chefe na minha sala pedindo pelamordedels pra resolver um negócio que blábláblábláblá. Minha mãe quase desmaiou.

Quando fazia uns 20 minutos que eu tava lutando contra o sistema (que já tava em recesso) e finalmente vencia a guerra, entram duas coleguinhas na minha sala pra falar feliz natal e etc e eu não dou muita bola, porque tenho coisa mais importante pra fazer. Aí elas falam "mas porque você não tá prestando atenção na gente?" Eu respondo que é porque o documento que eu estou fazendo tem prazo e não quero correr o risco de o sistema morrer de vez. Elas gritam em coro "MAS VOCÊ AINDA TÁ TRABALHANDO????".

Sim.

****

Eu tinha um amigo muito amigo amigo mesmo, daqueles com quem a gente combina de casar se atingir uma certa faixa etária da depressão sem um relacionamento significativo, daqueles que todo mundo pensa que vocês têm um caso secreto ou por quem você está secretamente apaixonada, que te liga de madrugada porque a mulher que está fazendo da vida dele um inferno aprontou uma coisa nova e você vai consolar. Ele te conta que a fia decidiu que ele não servia nem pra pano de chão, pegou um ônibus pra uma cidade a 600km de distância, no dia do aniversário dele, só pra não ter que olhar na cara dele. Uma fofa, eu diria. Aí seu amigo chora no seu ombro e você dá conselho pela milésima vez, porque foi só esse pouquinho de vezes que essa querida fez com que ele sofresse. Ele insistia, azar dele. Mas obrigação de amigo é dar esculacho e ombro, eu tava lá fazendo minha parte. 

Um ano depois, nesse lindo intervalo de virada de ano, me aparece no facebook uma terceira pessoa comentando "o casamento do fulano estava ótimo". Fulano esse sendo seu amigo do parágrafo acima. A noiva? A DOÇURA DO PARÁGRAFO ACIMA. Cê dá um piti no facebook, porque foi lá que as ~novidades~ apareceram e quiqui seu """""amigo"""" faz? Diz que não te avisou que ia casar porque não tinha dinheiro pra te convidar pra festahahahahahahahahahha. As if eu ingerisse carne e cerveja no churrasco alheio, por qualquer comemoração que fosse. Sério, a pessoa relacionou o fato de esconder o casamento de mim por não querer me dar comida. HAHAHAHAHAHHAHAHAH.

Indignadíssimo, postou no próprio facebook que não entendia como alguém fazia questão de ser convidado pra uma festa que era tão íntima e tal e eu me pergunto se é idiota tanto assim de achar que era sobre a festa ou se era mais fácil se fazer de idiota pra não ter que admitir que casou com uma desaplaudida, né? O mais legal foi um """"amigo""" em comum que comentou o post do noivo com as lindas palavras "vi o mimimi por aí e acho que você tá certo" e no dia seguinte vem querer que eu seja simpática. 

NÃO.

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Tava caindo uma chuva torrencial, do tipo que você espera a qualquer momento Noé vir remando e chamando Gisele Binxem e Tom Brady pra embarcar - até parece que seriam quaisquer outros dois na cota de humanos, né? - e tudo o que você mais quer é agradecer ao cosmos por ter uma casa que não alaga, não é perto de rio, não tem telha furada e vocês compreenderam o raciocínio e ficar quieta em casa. Mas eu não posso, porque uma pessoa precisa ir do ponto A ao ponto B com hora marcada, bem na hora da chuva. E só eu posso levar, porque meu carro é o único cujo limpador de para-brisa (como escreve esse troço depois do acordo?) é capaz de lhe-dar com aquele tipo de chuva feat. a única com carteira de motorista em dia. 

Aí eu vou sofrendo, porque se tem uma coisa que eu odeio mais que dirigir à noite (zóio sofrido com luz não trabalha bem com faróis na cara e luzes de freio em geral) é dirigir na chuva, então imagina como é gostoso dirigir à noite COM chuva.

Tudo ia bem, estava quase no destino final, o farol ficou vermelho, parei. Do meu lado direito, carros parados em 45 graus, como é o certo naquela rua. De repente, um retardado resolve que quer sair da vaga e simplesmente dá ré em cima do meu carro parado no farol. Eu buzino, eu grito, mas a chuva está forte demais, tipo de novela mesmo, e o imbecil não escuta e NÃO.PARA.DE.DAR.RÉ. Ele não percebe que o carro não vai mais - sim, ele bateu no meu carro, que prendeu o caro dele - e não para de acelerar. Tento convencer alguém a descer do carro ou abrir a janela ou qualquer coisa mesmo, mas com aquela chuva, ninguém faz nada. O sinal abre e o imbecil atrás de mim começa a buzinar e dar luz alta, de modo que eu não tenho escolha a não ser sair dali. Não acho lugar pra parar pra voltar e pegar a placa do animal que destruiu a lateral do meu carro. Não vou mandar arrumar e dane-se, vou ser aquela pessoa que todo mundo tem medo de ultrapassar, estacionar do lado, pegar carona. Porque se o carro tá escangalhado, é sua imagem que vai pro buraco. DANE-SE. Perdi o amor.

Quando todos os acidentes automobilísticos que você teve na vida foram culpa da outra pessoa, sempre numa manobra muito inteligente, cê meio que desiste.

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Falando em carro, levei a minha primeira multa ♥. Que também não foi minha culpa, mas who cares? Cinco pontos na carteira. Como eu disse pra minha mãe: o dinheiro não me incomoda, mas a humilhação de pontos na carteira por uma coisa que eu não fiz e não é possível apresentar o condutor, olha, tô amando. 

Em assunto não relacionado, fui transferir o carro no DETRAN e foi lindo, porque apenas chegando lá eu descobri que estava sem luz de freio (obrigada você que me seguiu outro dia e não foi capaz de avisar, beijão!), sem luz de placa, com placa sem lacre, com extintor vencido (parabéns pra você que olha a validade da válvula e acha que é a mesma do pozinho), insulfilm mais escuro que o permitido, etc.

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Mas o mais legal mesmo foi a epopeia do cabelo. Acho até que nem vou contar mais nenhuma história depois dessa.

Pois todo mundo tá ligado que metade do meu cabelo tava azul, né? Pois é. Tava lindo, eu gostei muito e pensei "por que não aumentar a área capilar colorida?". Não tinha como dar errado, é claro.

Na minha cabeça, ia funcionar como uma belíssima californiana, onde eu tacaria tinta rosa em cima do negócio todo e depois azul e ai que moderna! Prendi o cabelo num rabo bem lindo, peguei o descolorante, passei, embrulhei com papel alumínio e fui faxinar a casa.

Eu só esqueci de um detalhe bem pequenininho.

Quando eu pintei o cabelo de azul, fiquei profundamente entediada com o tempo pra descolorir, de quase meia hora. Comprei água oxigenada de um milhão de volumes, pó descolorante azul poderoso destruidor e não li que levaria cinco ou dez minutos pra descolorir.

No meio da faxina, literalmente meia hora depois, fui colocar alguma coisa na área descoberta da minha casa e notei minha cabeça queimando. Pensei que fosse o sol forte, então coloquei a mão no pedaço irritado pra ver se o sol estava pegando ali. Queimei minha mão - sim, queimadura mesmo, de deixar vermelho - no papel alumínio. Gritei por socorro, porque comé que eu ia segurar aquilo e correr e enfiar a cabeça debaixo da torneira sozinha? 



Taquei a cabeça na água fria e esperei pelo pior. Nada aconteceu. O cabelo estava loiríssimo, mas com a cara até boa. Deixei secar naturalmente, cara boa. Terminei de secar com secador, ficou meio ressecado. Passei a tinta rosa e a textura ficou linda, a cor ficou linda, deixei secar naturalmente por uma meia hora e fui dormir.

Quando.eu.acordei., meu amigo, que pavor.

Nunca vi um cabelo tão feio em toda minha vida hahahaha. Era rosa, era azul, era castanho, era uma vassoura das meninas superpoderosas. Tive um ataque de riso que não podia ser contido. Penteei o cabelo, despenteei, passei silicone, ativador de cacho, alisador, creme de ponta dupla, creme de reconstrução, spray de vida, spray de brilho... Tentei de tudo e não tinha o que domasse aquele pesadelo.



Fiz o que qualquer pessoa sensata faria: uma trança. Mentira. Depois da trança, corri pra farmácia e comparei a raiz do meu cabelo - única parte ainda intocada pela química - e comprei uma tinta castanha. Dividi o cabelo em 38 partes, de forma que restasse ainda azul e rosa nas pontas, taquei castanho no resto e fui assistir televisão.

Uma hora depois, lavei o cabelo e ele caiu quase todo.

FIM.

HAHAHAHHAHAHAHAHAHHAHAHA

Mentira, não acabou não.

Sabe cena de paciente em quimioterapia? Era eu passando a mão no cabelo depois de pintar de marrão. Peguei o secador pra ver mais rápido o desastre e era uma baforada uma despencada. Meu cabelo ficou com uns 4 degraus e nunca mais foi visto solto depois daquele dia. Cinco cores. A raiz, natural. A ponta da franja e da parte que caiu bem amarelas. A parte central um vermelho água de morango. O começo da ponta rosa barbie. A ponta azul. Tava uma graça. O cabelo parecia de boneca velha, a ponta toda estourada, que não tinha Seda Ceramidas que desse jeito. O pior é que lavava e ficava lindo molhado. Secava e ficava um pesadelo.





As cores foram desbotando, taquei rosa em tudo, o que era azul ficou cinza, o rosa não pegou direito, sério hahahahaha. Alguém tinha que fazer parar. Um dia eu resolvi ir na piscina e fiquei apavorada, mas o colorido só ficou esbranquiçado. Voltei na piscina no dia seguinte e saí com o cabelo verde radiativo. Liguei na cabeleireira imediatamente e estava sentada na cadeirinha dela 24 horas depois.

Falei "deixa na altura do ombro, em camadinhas, deve tirar o estrago todo". Ela falou não tira não e tosou o cabelo com vontade mesmo. Tô agora com um corte véia na menopausa, mas tô linda. Mr Esquistossomose disse que tô linda, então a opinião do resto todo da humanidade é inválida e eu vou acreditar nisso até dezembro de 2014, quando meu cabelo deverá estar no meio das costas (sem zueira) e eu serei bonita (hahahahha quem eu quero enganar) novamente.



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E é isso, gente. Um resumão do melhor que pode acontecer na sua vida em um mês, quando esse mês é no meio do verão, com uma virada de ano no meio. Não sei qual é a vibe errada que acomete a humanidade nesse período, porque é muito cocô junto.

O mais engraçado foi que eu fui dizer que tô nem aí pro ano novo, porque eu considero ano novo assim que passa meu aniversário, sendo o dia seguinte a ele o dia em que um ano realmente começa pra mim e ganhei vários votos de felicidades no dia 31 de dezembro ahhahahahahaha. Não tem como não amar essa época do ano ♥

Teoricamente, estamos restabelecendo as atividades normais de hoje em diante, fiquem ligadinhos.