Eu fico 100 anos sem escrever e aí, meua mô, antes de acabar essa primeira frase aqui, já temo pelo tamanho deste post.
Vamos por partes.
Introdução: das coisas que absolutamente toda a humanidade risos sabe a meu respeito, mas não saberiam se eu tivesse escolha
* eu não como carne.
Aliás, essa é uma afirmação complexa e semi-falsa. Porque eu como frango e frango é carne. Porque eu como um peixe de nome impossível de lembrar, que só ecsiste em um restaurante
Não como carne e ponto faz a mágica.
Por que eu preferiria que as pessoas não soubessem? Porque sua vida social morre 37% quando você não come carne. Você evita churrascos, porque sabe que vai morrer de fome, você não tem o que comer no almoço na casa do amiguinho e ninguém quer ser convidado pra se alimentar na sua casa. É maneiro.
Uma vez, eu fui na casa de uma pessoa, cujo almoço era arroz, feijão, maionese de batata, salada e bife. Coloquei no meu prato tudo, menos o bife. A família entrou em pânico, achando que era porque eu só comia carne fina, fizeram a serviçal ir até o açougue comprar filé minhom kkk urgentemente e foi muito difícil explicar que não era esse o problema. Aí, nego olha pro meu prato CHEIO e diz “cê num vai comer nada, então?”.
Olha, não é fáceo.
Mas já que as pessoas sabem que eu não como carne, é bom que saibam que é porque eu NÃO.GOSTO. pode passar seu pedaço de bife com nome que eu nunca saberei (mano, patinho? Alcatra? Costela? Mais fácil eu saber onde está a Chechênia num mapa que saber os pedaço do boi) debaixo do meu nariz fazendo hummmmmmmm o quanto você quiser. Se passar um pedaço de cocô, vou ter a mesma vontade de comer. SÉRIO.
Resumo: não como carne de vaca, de porco, de rã, de pato, de cabra, presunto, mortadela (ME DIZ COMO ALGUÉM COME ESSE TROÇO, PLS), salame, salsicha e tenho nojinho, eca, sai daqui.
* eu tenho alergia à tabela periódica inteira.
Até de água. Até de ar. Até da sua mãe quicando. Tenho alergia de tudo. Tomo remédio todos os dias da minha vida e tenho crise mesmo assim. É.um.in.fer.no. Mas tipo, seria muito mais simples se fosse um inferno particular, sabe? É meio irritante todas as pessoas me lembrando que eu vou morrer se tomar aquele copinho de leite, que eu vou morrer se for no parque, que eu vou morrer se a terra mantiver os movimentos de rotação e translação e whatevs.
Fora os momentos “cê tá com antialérgico na bolsa? Então toma que sua cara tá com 8 tons de vermelho e seu olho ta igual ao do corcunda de notre dame.”. Nossa, muito legal.
Eu sei que parece muita estupidez cos colega que só estão tentando ajudar, mas é que só quem passa pelas experiências de quase morte que sabe o quanto dói. Eu sei quando preciso tomar remédio, brigada.
* eu só tenho um rim
Por que cê vai tanto na casinha? Por que cê toma tanta água? Por que seu tornozelo tá com o dobro do tamanho normal? Por que cê não quer fazer essa aulinha super tranqüila de muay thai?
Porque eu só tenho um rim.
Eu adoraria que as pessoas não soubessem desse fato, juro. É um saco morrer de pavor que alguém machuque meu rim que sobrou, porque eu sou assim mesmo e acho que as pessoas são ruins. Também é chato não poder fazer a aulinha do Creiço de muay thai, tenho que confessar. Também é chato ter que carregar sal light pros lugares e ouvir as pessoas me perguntando se eu sou maluca a ponto de fazer dieta até com sal, sabe? VÃO ESTUDAR, MEUS AMOR? E outra: o tanto que eu vou ao banheiro não lhes diz respeito, MILARGA.
* eu freqüento academia
É mêmo, é? Sabe que não parece? Sei. Mas eu vou, mesmo odiando. Desde a parte cheia de bocó, achando que vai ser o novo Rambo, até a parte cheia de véia combatendo artrose. Tem coisa pra fazer, lá estarei eu. Mesmo nas férias. Mesmo na chuva. Mesmo no calor.
*****
Ok, vocês que ainda não sabiam dissos, precisavam saber pra entender a história que vem a seguir.
A incrível história de como eu virei uma baleia e de como todas as pessoas do mundo julgam gordo pqp vcs
Eu nasci numa família magrelinha, cheia de gente magrelinha, que continua magrelinha e esquelética até os dias atuais.
Eu nasci magrelinha e permaneci magrelinha até pouco tempo atrás, mas nos dias atuais eu sou uma balofinha.
Acompanhe a timeline.
Agora, a controvérsia: FOI SIM culpa de um remédio, mas né? Mais fácil culpar o gordo. Chama de folgada, chama de comilona, diz que é tireóide, diz que é o rim, diz que é a vó, mas magina, o remédio é magia, jamais estragaria a pessoa.
Eu me entupo de corticóide praticamente todos os dias da minha vida e todos sabe que essa porcaria estraga a pessoa, né? De modos que eu fui procurar todos os médicos do catálogo pra ver se tinha algo de errado com a minha tireóide, com o meu rim, com o meu baço, com o meu joelho esquerdo, com o meu olho direito, com o meu umbigo. E num tinha. Tava tudo certo com a minha pessa. ““““““Certo”””””.
Então, na incrível saga de ir a todos os médicos do catálogo, o que se deu foi o seguinte.
Alergologista
Meu, cês não sabem quantas vezes a secretária dessa senhora me corrigiu por dizer alergista. Ela própria se chama de alergista. Mas eu nunca mais falarei alergista enquanto eu viver.
Eu entrei no consultório dessa senhora pela primeira vez em 2008 e pesava uns 15kg a menos do que eu peso hoje. Aí, por diversão, ela me fez subir na balança no final do ano passado. Eu quase caí de cima dela e morri na queda devido ao meu pesinho. Ela veio dizendo que não era nem pra eu começar a culpar o remedinho milagroso (só que ao contrário), de modos que eu tinha que achar o problema, que era meu e não do remédio.
Pensei em me atirar na frente do biarticulado, mas minha mãe me salvou. Entrei na padaria e comprei 6 pães de laranja e não comi nenhum, porque eu tava gorda.
Nefrologista
Ninguém é mais importante nessa vida que a pessoa que cuida do meu solitário rim. No mundo médico, qué dizê. Só que eu tinha birra com os médicos anteriores e escolhi um totalmente novo no meu catálogo. E eu sou muito inteligente, fiz os exames todos ANTES de ir lá, porque, sério, eu sou muito inteligente.
Chegando lá, eu explico a novela toda, entrego uma meia dúzia de exames véios pra ele compreender o previously, na minha vida e tá, começamo a conversar sobre o hoje e sobre o ELEFANTE na sala. Elefante esse sendo a minha própria pessoa (é pra dar ênfase).
- ok, a senhora não está contente com o peso, mas ele não é culpa do seu rim. Vamo falá a verdade: cê desconta tudo na comida?
- não.
- vai dizê que não tem aquele momentinho que cê come a caixa de especialidades Nestlé inteira?
- não.
- cê assalta geladeira?
- não.
- fia, comé que cê qué que eu acredite nisso?
Aí eu peguei os exames recentes e dei na mãozinha dele. O zóio do médico brilhou e ele disse:
- agora sim eu acredito... ninguém que come errado tem essas lindas taxa de HDL, LDL, açúcar e blábláblábláblá.
Gente, eu num tinha motivo pra mentir, né? Mas médico é essa raça infeliz que acha que é o House, então a gente deixa eles serem felizes.
- minha filha, cê tem asma? Rinite severa? Ssascoisa?
- tenho.
- cê toma corticóide?
- tomo.
- pois então pode procurar um endocrinologista, que é esse aí seu problema.
Cê pode notar que eu não falei nada, né? Ele que disse. E eu acreditei porque, veja bem, O SANGUE NÃO MENTE. Se não tem nada errado comigo, alguma coisa tá errada. De modos que eu fui em frente.
Quiqui eu pensei? “Como diminuir o consumo de corticóide?”. Quiqui eu respondi? “Que tal acupuntura?”. Já tinha funcionado uma vez, não custava ir de novo.
Mas o Sr. Miyagi, meu médico anterior, desapareceu do mapa. Fui obrigada a ir a um médico totalmente novo.
Acupunturista
- oi, eu quero tomar menos remédio pra alergia, então vim aqui fazer acupuntura, porque minha rin...
Ele interrompe.
- alergia não é seu problema.
- ah, não?
- não, primeiro você tem que emagrecer.
Q
- aposto que você está em negação sobre seu peso.
Q
- aposto que a senhora é uma comilona preguiçosa que acha que vai emagrecer por mágica.
QQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQQ
Sério, gente, foi bem assim. Eu percebi nessa hora que tava com a boca aberta de incredulidade. O lindo médico interpretou aquilo como cara de quem está caindo na real e continuou:
- aposto que você não resiste a um churrasco... aquela carne com gordurinha. Aposto que enche a cara de salame, de mortadela, de provolone. Tenho certeza que você toma 28 cafezinhos por dia, cheios de açúcar e que você curte uma azeitoninha.
*PAUSA*
Não contei não? Provolone é só uma das 23098457 coisas que eu tenho alergia e NUNCA como. Fora que eu não tomo café. Nunca. E azeitona é lixo, não é comida, não ingiro esse atentado da natureza contra a humanidade.
Então imagina aí a minha cara enquanto ele ia falando.
Não contente, ele começou a atacar meu estilo de vida. Mas ó, cês tão reparando que eu não tive tempo de terminar uma frase antes de ele atirar isso tudo?
- minha filha, ficar sentada o dia inteiro no sofá não leva ninguém a lugar nenhum. Você precisa fazer exercícios!
- sério? Quiqui cê sugere?
- caminhada, lógico.
- é memo? Onde?
- no parque, lógico.
- e o que eu faço com a alergia mais forte que eu tenho, que é de mato?
*ops*
- é... no parque você não pode. Na rua, então?
- e o que eu faço com a minha asma brigando com os escapamentos?
- é... na rua também não dá. Então vai pra academia, ué.
- eu já vou. A semana inteira.
- você não tem cara de quem vai pra academia.
PELAMORDEDEUS, ALGUÉM ME REPONDE PORQUE EU NÃO SAÍ DE LÁ NESTE MOMENTO?
Só que aí eu falei que ia pra academia. E falei todo o resto que já contei aqui antes. Não como carne, não como mortadela, não como provolone, faço exercícios e adoro alface, sabe? E aí ele me respondeu singelamente que eu tenho problemas de negação, que uma pessoa não chega no *meu tamanho* comendo adequadamente e se exercitando regularmente. Começou a gritar que eu precisava de um psiquiatra. Hahahaha.
A gente poderia dividir um, eu acho.
Só sei que saí de lá revoltada, porque nem meus exames ele quis ver (!). Tive um ataque histérico com a minha pobre e santa mãezinha, que me esperava fora do consultório.
Eu não quero ser gorda, eu não sou gorda. Alguma coisa me estragou e agora o que todo mundo vê é uma pessoa com muitos quilos. Ninguém lembra que eu sou engraçada, bonita (aham), inteligente e as outras 3 qualidades imaginárias que eu tenho. Todo mundo só vê a gorda. Ah... era tão bonitinha uns anos atrás, pena que relaxou. Nossa, tão legal ela, né? Pena que não se cuida. Poxa, se comesse só um pouquinho menos, poderia ficar tão melhor...
VÃO PRO RAIO QUE OS PARTA.
Não teve um só dia desde que o ponteiro da balança começou a subir que eu não tenha comido um disso a menos, um daquilo mais light, trocado água por água destilada. Sabe? Eu já quase morri (literalmente, desta vez) por causa de um tratamento pra emagrecer. Já fui em tudo que é médico que existe. Já fiquei sem comer, já comi só aipo, NÃO.A.DI.AN.TA.
Aí eu saí desse médico e comi um donut, porque pelamor, eu merecia.
E fui passear no shopping, porque é a única coisa que acalma a mulher moderna e não envolve tarja preta.
Aí eu entrei na Farm e olha, eu entrei com o coração em pedaços, pra comprar um presente pra minha irmã magra, já sabendo o que as araras daquela loja fariam com a minha pessoa sofrida pela obesidade. Qué dizê, eu já comprei na Farm, tenho fárias roupa de lá que me servem, mas tava duvidando caber em qualquer coisa lá nos dias de hoje.
Mas o pior aconteceu. Eu me encantei por uma camiseta verde bandeira que eu queria há tempos. Olhei no cabide e OBVIAMENTE era uma camiseta PP. Peguei meu par de olhos tristes e lacrimejantes e supliquei à vendedora por uma G.
- não tem mais, prova essa da arara.
- moça, é PP. De Pequeno Pracaramba. Olha pra mim!
- tô olhando. Prova que serve.
- vou é transformar essa blusa em tenda de circo.
- vai com fé, que vai caber.
Mais pra poder descontar a raiva na vendedora que por qualquer outro motivo, entrei com a blusa no provador. E serviu.
Não me pergunta que lei da física que morreu naquele momento, mas serviu.
Mas assim, SERVIU, cê não tá entendendo. Não apertou nos peitos, na barriga, não ficou curta. Serviu direitinho, como se tivesse sido feita sob medida.
Comprei, né? E saí da loja saltitando.
Não porque eu seja idiota a ponto de acreditar que eu esteja uma menina PP (porque eu não SOU gorda), óbvio que não. Mas porque eu me dei conta que eu não sou o hipopótamo que tem muita gente querendo me fazer acreditar que eu sou. Se eu ainda caibo nas roupas que vendem no shopping, ainda há esperança. E eu caibo NA FARM, MEU AMOR. Tudo vai dar certo.
Ainda comprei mais um casaco, só porque era M. Na Farm também. É ô num é incrível?
Tudo bem que dois dias depois eu comprei uma calça de maternidade na Renner, só porque era linda e perfeita e eu não tenho culpa se enfiaram aquele paninho de amassar barriga lá, mas num tô fugindo da realidade hahahaha.
Fim.
METCHIRAAAAA
Endocrinologista
Porque eu sou brasileira. Mal entrei no consultório e nego já veio perguntando que remédio que eu queria. Deveria ter respondido “bucetramina”, como uma coleguinha confusa fez uma vez. Depois foi enveredando pelo mesmo caminho do acupunturista e eu fiz ALOCA. Catei os exames na bolsa, joguei na cara dele e disse pra ler primeiro e falar depois. Perguntar primeiro e diagnosticar depois. Se era pra chamar de comilona folgada, eu tinha mais o que fazer.
Ele leu e pediu desculpas. “É verdade, esses exames confirmam que você come direitinho. Você faz exercício também?”. Tcharam, mágica. Expliquei tudo, contei quase tudo. Omiti a parte da alergia e dos remédios, porque não queria ouvir a abobrinha toda. Aí ele perguntou se eu por acaso não vinha a usar bombinha pra asma. Eu expliquei. E ele “olha, tem uma alteração aqui nos seus exames que aposto que ninguém notou antes, porque é muito pequena” e me mostrou. “Isso, pra quem não tem histórico na família, é culpa de remédios, quase sempre de asma”.
Só que.
Só que o remédio estragou uma coisa meio séria, de modos que eu vou ter que revezar grupos alimentares e tomar VINTE MIL comprimidos por dia, pra poder fazer outro exame, pra tudo voltar ao normal (oremos). Acontece que eu não posso comer batata por uns tempos e meu, tira meu ventilador, mas não tira minha batata, sabe? É muito sofrido. Aí ele estava lá me explicando como, quando e o que eu tinha que comer, quando fez uma carinha super alegre e soltou
- mas olha, carne cê pode comer à vontade :D
*CATAPLOF*
Se eu não morrer de alergia, nem de falta de batata, nem de efeito colateral de remédio, a gente se vê
Vou ali chorar no cantinho e já volto. Mas não tão rápido, que é pra dar tempo de vocês lerem esse pequeno livro que eu escrevi.
Bgos miu e nunca usem remédio pra asma!